Moraes abre investigação contra Marcos do Val para apurar diferentes versões sobre plano golpista.
Fonte: G1/Jornal Nacional – 03/02/2023 22h19.
A suspeita é de falso testemunho na denúncia do senador sobre um suposto plano de golpe do então presidente Jair Bolsonaro.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes mandou abrir uma investigação para apurar as diferentes versões apresentadas pelo senador Marcos do Val, do Podemos, sobre um plano golpista.
Moraes afirma na decisão que, em depoimento à Polícia Federal na quinta-feira (2) à noite, Marcos do Val apresentou uma quarta versão dos fatos por ele divulgados.
Em entrevistas para diferentes veículos de imprensa, o senador se contradisse em vários momentos sobre o que teria ocorrido no encontro entre ele, o então presidente Jair Bolsonaro e o então deputado Daniel Silveira, do PTB.
Uma dessas contradições é sobre onde a reunião foi realizada. Inicialmente, Marcos do Val disse que eles conversaram no Palácio da Alvorada. Depois, afirmou que foi na Granja do Torto, outra residência oficial da Presidência da República. Para a Polícia Federal, ele apresentou uma nova versão: disse que não conseguiu identificar o local da reunião.
Do Val se contradisse também sobre a participação de Bolsonaro ao longo da conversa.
À revista “Veja”, Marcos do Val afirmou que o então presidente foi quem conduziu o diálogo.
Em entrevista à Globo News, o senador disse que foi Daniel Silveira quem falou o tempo todo, mas que Bolsonaro afirmou, ao final da conversa, que aguardaria uma decisão sobre a participação do senador no plano.
“A única coisa que o presidente falou foi o seguinte: ‘Então tá, então a gente aguarda e você manda a mensagem.’”
Na quinta-feira, no depoimento à PF, Marcos do Val afirmou que, durante toda a conversa, Bolsonaro manteve-se calado.
Diante de tantas dúvidas, o ministro Alexandre de Moraes mandou a Polícia Federal apurar o caso. Ele quer saber exatamente como os fatos aconteceram e se o senador Marcos do Val cometeu os crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo. Alexandre de Moraes também pediu que as íntegras das entrevistas dadas pelo senador sobre o assunto sejam entregues pelos veículos de comunicação ao STF.
O jornal O Globo traz parte das mensagens que teriam sido trocadas entre Silveira e Marcos do Val antes do encontro, que se deu no dia nove de dezembro do ano passado.
Nesse dia, Silveira teria mandado mensagem de áudio explicando como o senador entraria no lugar da reunião discretamente. O então deputado disse para Marcos do Val não entrar no Alvorada, não chegar nem perto da entrada, que Do Val não ia aparecer, para o senador parar no estacionamento que um carro ia buscá-los.
Nas mensagens, Daniel Silveira diz que a missão estaria restrita a três pessoas e que nem o Flávio, referindo-se ao filho do presidente, senador Flávio Boslonaro, “saberá” da conversa.
E acrescenta: “Caso o objetivo seja alcançado em situação de aceitar a missão, o conteúdo não será publicizado. Será única e exclusivamente para pautar, com total integralidade, a ação a ser tomada que já está desenhada e pronta para implementar.”
Em outra mensagem, Daniel Silveira afirma que “não há riscos, uma vez que o objetivo foi alcançado, está resolvida a questão. Caso não extraia nada, é descartado o conteúdo e ninguém saberá”.
Silveira questiona: “Não sei se compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação.” E pede que Marcos do Val “não comente com absolutamente ninguém”.
À Polícia Federal, o senador afirmou que, durante a reunião, Silveira perguntou se ele gravaria uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes e “se conduziria a conversa de maneira que o ministro falasse algo no sentido de ultrapassar as quatro linhas da Constituição”.
O senador teria, então, questionado Silveira de que a gravação seria ilegal “com a possibilidade óbvia de ser preso”. Daniel Silveira disse, segundo Marcos do Val, que “daria um jeito da gravação se tornar legal, sem especificar como”. Do Val falou que sentiu-se desconfortável com a proposta e pediu alguns dias para pensar.
Segundo Marcos do Val, Daniel Silveira afirmou que usaria o material para anular a eleição, que o ex-presidente permaneceria no cargo e que prenderiam o ministro Alexandre de Moraes.
Nas conversas via aplicativo, Silveira afirma que a operação ficaria “restrita a cinco pessoas, e que três estavam sentadas hoje, conversando juntos”. E que “se aceitar a missão, parafraseando o 01 (numa referência a Jair Bolsonaro), salvamos o Brasil”.
Nas mensagens via aplicativo, Daniel Silveira cobra uma resposta do senador. Diz que Do Val “tem o respaldo de pessoas muito importantes e relevantes que decidiram não participar da conversa para não se exporem”. E que “estão todos com uma esperança sem precedentes, pois somente com o senador o cenário da missão seria possível”.
As conversas também registraram o contato que foi feito pelo senador com o ministro Alexandre de Moraes, no dia 12 de dezembro, dia da diplomação do presidente Lula no TSE. Marcos do Val diz que precisava falar com o ministro sobre como foi a reunião com o presidente da República e Daniel Silveira. “Me pediram uma ação esdrúxula, imoral e até criminal,” escreveu o senador na mensagem a Moraes.
Nesta sexta, horas de mandar abrir a investigação, numa participação por vídeo do Brasil para um evento em Portugal, o ministro Alexandre de Moraes falou sobre o encontro que teve com Marcos do Val. Ele disse que, no dia da audiência, o senador se negou a registrar o que tinha contado em depoimento.
“O senador, ao conversar comigo, não adiantou qual seria a conversa. O que ele me disse foi que o deputado Daniel Silveira o teria procurado e ele teria realmente participado de uma reunião com o ex-presidente da República, e a ideia genial que tiveram foi colocar escuta no senador para que o senador, que não tem nenhuma intimidade comigo, eu conversei exatamente três vezes na vida com esse senador, para que o senador pudesse me gravar e a partir dessa gravação e aí, é até onde chegou o senador, pudesse solicitar a minha retirada da presidência dos inquéritos.
Eu indaguei ao senador se ele reafirmaria isso e colocaria no papel, que eu tomaria imediatamente o depoimento dele. O senador me disse que era uma questão de inteligência e que infelizmente não poderia confirmar.
Então eu levantei, despedi do senador, agradeci a presença, até porque o que não é oficial para mim não existe.
Foi exatamente essa a tentativa de uma operação Tabajara que mostra exatamente o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil”, disse Moraes.
Fonte: Plataforma de Notícias – O Globo/G1
Leia a DECISÃO exarada pelo Eminente Doutor Alexandre de Moraes determinando a Instauração de Inquérito Policial contra MARCOS DO VAL pelo suposto cometimento de artigos 359-M (golpe de Estado) e 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito) do Código Penal.
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Em despacho de 2/2/2023, foi determinado à Polícia Federal que
procedesse à oitiva do Senador MARCOS DO VAL, por ter ele divulgado,
em suas redes sociais, ter recebido proposta com objetivo de ruptura do
Estado Democrático de Direito, circunstância que deve ser esclarecida no
contexto mais amplo desta investigação, notadamente no que diz respeito
a eventual intenção golpista, o que pode caracterizar os crimes previstos
nos arts. 359-M (golpe de Estado) e 359-L (abolição violenta do Estado
Democrático de Direito) do Código Penal.
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